14 de junho de 2009

Resumos: palestras

Arqueologia da Escravidão e Arqueologia Pública: Algumas Interfaces.

Prof. Dr. Lúcio Menezes Ferreira (UFPel)

Emergindo no cenário arqueológico dos Estados Unidos a partir de 1960, a Arqueologia da escravidão, nas últimas duas décadas, pluralizou as interpretações sobre os contextos sociais e culturais de atuação dos escravos de origem africana. Entre a pletora de temas que desenvolveu, um dos mais marcantes, atualmente, é o estreito diálogo com a Arqueologia pública. A partir de 1990, os praticantes da Arqueologia da escravidão notaram que o fenômeno da diáspora africana despertou crescente interesse do público afroamericano e leigo em geral. O objetivo dessa palestra é, assim, explorar algumas das interfaces entre Arqueologia da escravidão e Arqueologia pública, enfatizando, notadamente, as seguintes questões: como as pesquisas em Arqueologia da escravidão incorporaram as comunidades nos processos interpretação arqueológica, perspectivaram as dimensões públicas sobre os quilombos e realçaram o viés multicultural e multivocal do patrimônio material dos escravos.

Cultura material, materialidades e identidades: os desafios do trabalho arqueológico.

Prof. Ms. Adriana Fraga (IPA)

O debate sobre a materialidade da cultura material e a construção de identidades vem de longa data permeando discussões interdisciplinares. Desde as três ultimas décadas do século XX, cada vez mais cidades e comunidades buscam firmar suas identidades, bem como suas representações, num tempo de culturas globalizantes e de massas. Neste cenário, a emergência de identidades locais e regionais é de significativa importância para os estudos da cultura material, em especial quando o olhar do pesquisador foca suas lentes nos grupos sociais em presença. Diante disso, pretende-se discutir a construção da identidade e a atribuição de valores e significados à cultura material contemporânea. Tomamos como ponto de partida para o debate sobre as problemáticas, desafios e possibilidades de um trabalho arqueológico, um estudo de caso, a cidade de Bom Jesus/RS.

Trajetórias de Pesquisa da Arqueologia Pré-colonial no Sul do Brasil.

Prof. Dra. Adriana Schmidt Dias (UFRGS)

Prática científica estruturada no país nos últimos quarenta anos, a arqueologia pré-colonial brasileira tem por objetivo construir um panorama interpretativo das distintas trajetórias históricas seguidas pelas sociedades Ameríndias, buscando através de aportes inter-disciplinares compreender a relação entre as escolhas culturais identificadas no registro arqueológico e as dinâmicas ambientais observadas em termos regionais ao longo do Holoceno. Nesta apresentação buscaremos traçar um panorama geral das pesquisas arqueológicas no Sul do Brasil, destacando inicialmente o histórico de estruturação acadêmica deste campo, enfatizando as principais orientações teórico-metodológicas e suas contribuições na definição dos quadros cronológicos e culturais atualmente disponíveis. Em um segundo momento, abordaremos as contribuições da arqueologia à história indígena regional a partir de três temáticas centrais: a) o povoamento inicial do território sul brasileiro na transição Pleistoceno-Holoceno; b) a diversidade cultural das sociedades caçadoras coletoras a partir do Holoceno Médio e a origem de economias especializadas em recursos aquáticos; e c) a colonização da região sul por sociedades agricultoras de origem amazônica a partir de 2.000 anos atrás e as dinâmicas de interação inter-culturais desencadeadas por este processo.

Arqueologia Urbana em Porto Alegre: métodos e práticas através de uma experiência pessoal em obras de engenharia inseridas no caos urbano.

Arqueóloga Angela Maria Cappelletti

A Arqueologia Urbana como campo de pesquisa tem se destacado na cidade de Porto Alegre, desde a década de 90, a partir dos trabalhos iniciados pelo Museu Joaquim José Felizardo, mas que hoje já incorpora diversos outros profissionais atuando através da chamada Arqueologia de Contrato. Partindo do contexto de entender a Arqueologia Urbana como arqueologia “da cidade” e “na cidade”, Porto Alegre é tratada aqui ao mesmo tempo como local e objeto de trabalho. É considerada como um documento histórico vivo, onde muitas vezes pode-se imaginar o cenário histórico que estamos estudando. Visto que, as marcas nas paredes, os sinais nos pavimentos, a memória das pessoas que passam por suas ruas, enfim os vestígios estão visíveis em toda a parte, são palpáveis, são latentes, estão à vista, mesmo que algumas vezes já quase apagados, esquecidos. Basta prestar um pouco de atenção. Ou como nos diz Bernardes: “na Cidade o passado está sempre presente através dos seus espaços e arquitecturas [e eu acrescentaria também: através de suas memórias], que a representam enquanto materialidades em constante transformação” (2002:17). Esta palestra, desta forma, visa apresentar um pouco das experiências pessoais nos últimos anos sobre as pesquisas Arqueológicas desenvolvidas por mim na cidade de Porto Alegre. Bem como, trazer algumas das metodologias aplicadas a esta realidade muitas vezes caótica. Tratando especialmente aqui de trabalhos sob a perspectiva da Arqueologia de Contrato, com suas realizações, frustrações e limitações.

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